Se for candidato, Moro quer adotar estilo Zema contra Lula e Bolsonaro
Os dois já conversaram durante encontro na Cidade Administrativa, sede do governo mineiro, em Belo Horizonte, em novembro passado. O governador Romeu Zema (Novo) recebeu o ex-ministro da Justiça e ex-juiz federal Sérgio Moro (Podemos) para trocar ideias sobre as eleições do ano que vem. Como sabe, Zema é pré-candidato à reeleição, e Moro pensa em disputar a Presidência da República. Enquanto não bate o martelo, o ex-juiz deixa seu nome na vitrine, que, na melhor das hipóteses, o fortalece para outras disputas menos difíceis, no caso o cargo de senador.
O governador se encontrou com o ex-juiz na Cidade Administrativa nesta tarde (Reprodução/Twitter)
Antes de apoio ou alianças, Moro queria saber como Zema fez para se eleger. De acordo com seus aliados, o ex-ministro quer mirar-se no exemplo do governador mineiro para vencer. Zema, ao vencer a eleição em 2018, superou dois governadores em Minas: o então governador Fernando Pimentel (PT) e ex-governador e atual senador Antonio Anastasia (estava no PSDB e, agora, no PSD).
Apesar de desconhecido, Zema surgiu como terceira via diante do cansaço da polarização e radicalização entre tucanos e petistas. Moro avalia que pode fazer o mesmo contra a polarização entre a extrema direita de Bolsonaro e a esquerda do ex-presidente Lula (PT). Dos nomes que tentam furar o bloqueio da polarização, Moro é o que tem tido melhor desempenho, às vezes, alcançando dois dígitos nas pesquisas.
Senado é visto como refúgio seguro
Se colar e ele decolar nas pesquisas, o ex-ministro vai em frente. Caso contrário, está mais disposto a ganhar estabilidade no emprego por oito anos como senador. Além, é claro, de conquistar imunidade parlamentar contra eventuais processos que sofrerá a partir da parcialidade com que tocou os processos que julgou, entre eles o do próprio Lula. Em 2018, tirou Lula da disputa sucessória e ainda o prendeu por mais de 500 dias. O ex-presidente recuperou a liberdade e os direitos políticos por decisão da Suprema Corte, a mesma que considerou Moro parcial.
Desgastes e outro pré-candidato
Protocolar e sem resultados objetivos, o encontro com Moro trouxe desgastes para o governador e antecipou suas intenções. Zema foi muito criticado por seguidores de Bolsonaro nas redes sociais e por deputados estaduais bolsonaristas na Assembleia Legislativa de Minas. Eles viram no episódio, e em outros, uma espécie de jogo duplo do governador. Alguns deputados até defenderam que Bolsonaro (PL) estimulasse uma candidatura a governador mais fiel a ele do que estaria sendo Zema.
Poucos dias depois, apareceu um pré-candidato a governador mais próximo de Bolsonaro. O senador mineiro Carlos Vianna deixou o PSD do prefeito de BH, Alexandre Kalil, e filiou-se ao MDB, por onde diz que deseja disputar o governo de Minas. Vianna é muito próximo dos bolsonaristas e poderá ganhar as bênçãos de Bolsonaro. Pode até não ganhar a eleição, mas vai tirar uns votinhos de Zema, além de abrir o palanque fiel que o presidente está buscando em Minas.
Espírito belicoso
Definitivamente, o espírito natalino e de final de ano está longe, passando longe da política. Aí, as armas estão carregadas e apontadas na direção exibida pela polarização da disputa pelo Governo de Minas no ano que vem.
Em três semanas consecutivas, os confrontos se manifestaram acima do diálogo e da capacidade de buscar soluções de forma conjunta. Em duas entrevistas, de igual tom e calibre, o governador Romeu Zema (Novo) soltou a artilharia contra a Assembleia Legislativa, de quem se julga vítima de ataques especulativos.
Suas declarações sinalizaram tempos de guerra, especialmente para o próximo ano, que é eleitoral, quando posições de poder estarão em disputa. O governador, que nunca tentou buscar diálogo com a Assembleia, nunca valorizou a política, usou termos fortes contra os deputados. Desqualificações foram usadas do tipo como a de “moleques”, “caloteiro”, “coisinhas miúdas”, descumprimento de palavra, má vontade, privilégios, puxa-saquismo.
Bolsonarizar Minas
Tiroteio generalizado e alguns dirigidos ao presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV), que, na semana anterior, havia criticado Zema, comparando-o a Bolsonaro. Dependendo do leitor, pode ser ofensa grave ou não, talvez, elogio. Agostinho disse que Zema está querendo ser “Bolsonaro em Minas” por tentar aprovar projetos em transparência e sem diálogo.
Se havia alguma chance de diálogo, de aproximação, as declarações de Zema, feitas em uma semana e reafirmadas na outra, implodiram a possibilidade. Na política, por mais que esse risco exista, sempre costumam deixar um atalho, um plano B. Como não tiveram esse cuidado, a guerra está declarada a um ano e quatro dias do fim do atual governo e a 10 meses e quatro dias das eleições do ano que vem.
“Vem pra urna”
Zema ainda lançou desafios, do tipo, em vez de ‘vamos pra briga’, chamou para as urnas. “Tem lá é gente que quer o poder. Vem disputar eleição então”, desafiou ele, sinalizando na direção de Agostinho Patrus. Ele reclamou do Assembleia Fiscaliza, modelo adotado pelo Legislativo para acompanhar as ações do governo. “Isso não existia antes”, queixou-se, insinuando que foi feito para o seu governo.
Existem ainda decisões importantes que virão ou deverão ser tomadas pela Assembleia e, pelos sinais da fumaça, serão de confrontos. Como exemplo, a renovação da licença do secretário Mateus Simões (Novo), da Secretaria Geral do governo, e outras medidas ordinárias de orçamento.
Se o Natal nem o bom senso podem ajudar, aguardemos emoções fortes sobre o que vem aí?
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