Cerca de 190 mil brasileiros sucumbem ao vírus e à omissão de Bolsonaro
Pode parecer exagero e acusatório. Ou até desespero, diante da tragédia que afeta a humanidade, em especial os brasileiros, e continuará não se sabe até quando. Se hoje temos cerca de 190 mil brasileiros mortos pela Covid-19 dos mais de 7 milhões infectados, as perdas poderiam ser menores? Sim, ou até maiores, não fossem ações e medidas adotadas de maneira emergencial e corretas por alguns estados e municípios.
Recorro aqui às palavras do próprio governador Romeu Zema (Novo), que é alinhado política e administrativamente ao presidente Bolsonaro. Diz Zema que Minas é exemplo no combate à pandemia por ter a menor taxa de mortalidade pelo coronavírus.
Chile saiu na frente e iniciou vacinação na quinta (24), foto Marcelo Segura/Chile’s Presidency/AFP
E mais, que se o país adotasse as mesmas medidas que Minas adotou, “seguramente teríamos menos 70 mil mortes”. Em sua mensagem de Natal aos mineiros, ainda reforçou os cuidados importantes. “O melhor presente de Natal que podemos dar um para o outro é continuar tendo todos os cuidados que tivemos até o momento e que salvaram muitas vidas”, recomendou.
Declarações confirmam descaso
A afirmação dele e os números podem até ser imprecisos, mas é fato que o número de mortos seria bem menor como medidas assertivas e dedicadas ao combate à pandemia. Basta observar a diferença de tratamento e de resultados entre o Brasil e outros países. As declarações de Bolsonaro retratam sua relação e omissão na pandemia.
Embora o ano esteja acabando, não começarei pelos fatos passados, de maneira cronológica nessa retrospectiva. Comecemos pelas últimas declarações do presidente do país após nove meses de pandemia e 189,3 mil mortos (números de 23 de dezembro último).
O que disse ele, no sábado (19), em “entrevista” ao próprio filho, que ele chama “carinhosamente” de número 03. “Não precisa ter pressa para vacina”, disse Bolsonaro, profetizando que a pandemia estaria no fim. Se a pandemia durar, como vai, mais 30 dias, seriam mais 24 mil a 30 mil mortos, já que morrem de 700 a mil brasileiros por dia. Na quarta (23), foram 777. Se tivéssemos, por outro lado, a vacina hoje, seriam menos 30 mil mortes no próximo mês.
Sem incentivos aos cuidados
Nem por isso, o presidente, que previu erradamente o fim da pandemia e opinou que a pressa era desnecessária, pediu aos brasileiros paciência e cuidado para o enfrentamento. Não recomendou o uso de máscaras nem o distanciamento social. Ao contrário. Onde há esses cuidados, o número de mortos foi e é menor.
E disse mais, já que não fica satisfeito em guardar para si os impropérios de sua maldade. Que a melhor vacina que ele “tomou” seria o vírus que ele contraiu. Em outras palavras. Se todos os brasileiros pegassem a covid poderiam estar vacinados sem a necessidade da vacina. Ora, façam as contas. Se dos 7,4 milhões infectados, 189,3 mil morreram; calculem se fossem, por exemplo, 100 milhões (a população é de 211,8 milhões, dados de agosto do IBGE). Teríamos então perto de 3 milhões de mortos.
Bolsonaro concede “entrevista” ao filho Eduardo 03, reprodução YouTube
Como não há gesto inútil na política, ainda usou uma camisa do Cruzeiro Esporte Clube para destilar sua desfaçatez. Provavelmente, queria atingir o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), com quem vem trocando farpas e que foi presidente do rival Atlético Mineiro. Bobagem, porque Kalil foi e é bem votado entre os torcedores rivais históricos.
Negacionismo crônico
Nesse retrospecto que faço, ainda lembro que o presidente negou a doença em seu negacionismo crônico e ideológico. Quando a admitiu, como uma gripezinha, recomendou o uso, não comprovado e contestado cientificamente, da cloroquina e o kit derivado dela.
Quando surge a única solução possível, pesquisada por especialistas e comprovada cientificamente, que é a vacina, ele diz que não precisa ter pressa e ainda que há riscos no uso do imunizante ao organismo humano. Dizer que acha que pode haver alteração do código genético é muito para a capacidade presidencial.
Tudo somado, sabe o que ele não quer é gastar os R$ 20 bilhões, do dinheiro que é público, com a compra de vacinas para atacar uma pandemia que, no delírio presidencial, estaria acabando sozinha. O povo não quer esperar por ele nem pela Anvisa, quer vacina já.
O que disseram presidentes de outros países
Enquanto fica para trás, México, Chile e Costa Rica saem na frente e já começaram a vacinação. “Quando alguém toma a vacina, está protegendo não apenas a si próprio, como as pessoas que ama, sua comunidade e seu país”, afirmou o presidente chileno, Sebastián Piñera. Ele foi ao aeroporto acompanhar a chegada do primeiro lote. A vacinação no Chile começou na quinta (24) e será voluntária e gratuita para os 18 milhões de habitantes. O governo de lá pretende vacinar 80% da população no primeiro semestre de 2021.
O México recebeu 3.000 unidades da vacina da Pfizer na quarta-feira (23). Na manhã do dia seguinte, uma enfermeira de 59 anos recebeu a primeira dose. “Hoje é o princípio do fim da pandemia”, comemorou o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard. O México registrou 120.311 mortos por Covid-19 —é o quarto país do mundo em óbitos, só perde para Estados Unidos, Brasil e Índia. Brasil não tem previsão oficial para começar a imunização.
Enfermeira é a primeira a ser vacinada no México, foto Governo do México
Vacinação na América e no mundo
Começaram a vacinar nesta quinta (24): México, Chile e Costa Rica
Começa na semana que vem: Argentina
Começam nos próximos meses: Equador – janeiro; Colômbia – fevereiro; Venezuela – abril;
Sem previsão oficial: Brasil, Nicarágua, Uruguai, Peru
Já estavam vacinando: Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Arábia Saudita, Israel e Rússia
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