Zema chama deputados de mercenários e abre nova crise com Assembleia
Perto da votação de projetos tidos como prioritários para sua gestão, o governador Romeu Zema (Novo) volta a se indispor com o Legislativo e abrir nova crise com deputados estaduais. Em nova declaração, Zema classificou sua relação com o Legislativo de “média” e tropeçou ao chamar deputados, genérica e sem citar nomes, de prática mercenária.
Zema sobre deputados: "uns querem saber quanto vai ganhar com isso", foto ImprensaMG
“Muitos lá ainda pensam no “o que eu ganho com isso” do que “o que é bom para Minas Gerais. Isso faz com que tudo fique mais difícil. Nós precisamos desse espírito de doação no setor público. Da mesma forma que muitas pessoas vão trabalhar em organizações sociais, em ONGs, até sem remuneração. O setor público precisa mais desse espírito de voluntário e não de mercenários. E infelizmente, muitas vezes esse é o tipo de pessoa que o procura”, disse Zema em entrevista ao site Boletim da Liberdade, feito por empreendedores do Rio de Janeiro. Ele não citou nomes, mas acentuou que o Legislativo “está dentro desse contexto que falei”.
Deputados cobram nota de repúdio
Quando parecia que Zema tinha estabelecido nível de convivência institucional com a Assembleia Legislativa, o governador derruba a construção de sua frágil base de apoio. As declarações dele caíram como uma bomba na Assembleia, até mesmo entre aqueles que mantinham uma posição de independência. Ainda nesta manhã, deputados até cobravam uma nota de repúdio da Mesa Diretora da Assembleia às suas declarações.
“Se ele está querendo briga, terá”, advertiu o deputado Osvaldo Lopes (PSD), avisando que seu bloco parlamentar é o maior da Assembleia, com 39 deputados. Admitiu que todos, sem exceção, ficaram irritados com a generalização. “Não tem base o governador Zema afirmar algo desta natureza, ele generaliza ao não apontar quem são os ”mercenários” da Assembleia no contexto que afirmou na entrevista. Um absurdo tratar a Assembleia desta forma, um poder que vem buscando diálogo a todo momento, sendo propositivo com sua gestão e responsável com o Estado.
A relação que sempre foi difícil só complica ainda mais daqui pra frente. Esperamos uma retratação ou que aponte aqueles de sua base que ele identifica agirem desta forma, já que a oposição cumpre seu papel responsável e de diálogo construtivo ao longo de seu mandato”, apontou o deputado Ulysses Gomes (PT), líder da Minoria.
Recuperação fiscal impõe perdas
Começa a tramitar na Assembleia o projeto tido como prioritário pelo governo, que é o da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, programa do governo federal. Por ele, Minas renegociaria sua dívida bilionária com a União de cerca de R$ 130 bilhões. Como condição, teria que privatizar empresas estatais, como a Cemig, Copasa, Codemig, entre outras, congelar salários dos servidores. Além de proibição de contratação de funcionários e dos concursos públicos.
A nova trombada do governador deverá colocar o projeto no telhado, já que ele não tem maioria na casa e a maioria considera o projeto prejudicial a Minas Gerais.
Arrecadação cresce na pandemia
Ainda na entrevista, Zema disse que falta espírito público na política. “As pessoas, de uma maneira geral, procuram o setor público para poder resolver o seu problema pessoal, que muitas vezes é financeiro. Estão em busca de uma solução individual e não de uma contribuição para a sociedade. Isso acaba fazendo do setor público um ente que não retorna para a sociedade serviços pelos quais ela paga caro. Desde o primeiro dia do nosso governo tenho mencionado que o Estado existe para servir à população, o pagador de impostos, e não para servir quem trabalha nele”.
Zema se equivocou também ao citar a difícil situação financeira do estado. Ao contrário do que disse, a arrecadação do Estado vem subindo cerca de 15% ao mês se comparada ao mesmo período do ano anterior. Isso ocorre desde outubro, em plena pandemia. Abril comparado com o mesmo mês do ano passado deve registrar crescimento de 40% a 50% a mais.
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