Vice-governador revela causas do rompimento com governo Zema
“A política é assim, faz emergir o melhor e o pior das pessoas”, resumiu o vice-governador de Minas, Paulo Brant, em artigo exclusivo ao Blog do Orion, a 3 dias do fim de seu mandato. Ao avaliar a experiência e as causas do rompimento com o governo Zema, disse que deu tudo de si, sem abrir mão de sua dignidade e integridade pessoais. “Talvez por isso, entrei numa rota de colisão com pessoas que cheguei a admirar, mas que, no curso da jornada, revelaram um caráter fugidio e fugaz, daqueles que navegam garbosamente ao sabor dos ventos do seu interesse pessoal”. Leia abaixo o artigo na íntegra.
Paulo Brant foi boicotado pelo governo Zema, foto Luiz Santana/ALMG
Bem-vindo 2023
Escrevo estes breves comentários no crepúsculo de 2022, quase ao findar do meu mandato como vice-governador do meu querido Estado de Minas Gerais. Vivi, nesses quatro anos, experiências incríveis, conheci pessoas maravilhosas. Parafraseando o poeta Fernando Pessoa, pus quanto sou em tudo o que fiz. Disso tenho certeza, em nenhum instante e em nenhuma circunstância, abri mão de minha dignidade e de minha integridade pessoal.
Talvez por isso, entrei numa rota de colisão com pessoas que cheguei a admirar, mas que, no curso da jornada, revelaram um caráter fugidio e fugaz, daqueles que navegam garbosamente ao sabor dos ventos do seu interesse pessoal. A política é assim, faz emergir o melhor e o pior das pessoas, de forma superlativa.
Zema e Paulo Brant tomaram posse em 2019, foto Ricardo Barbosa/ALMG
Travessia pacífica do poder
Encontro-me aqui em um estado de muita paz, e moderadamente otimista com o futuro do nosso país. Em primeiro lugar, pelo vigor e vitalidade de nossa democracia. Como é sublime a democracia! Vejamos bem o que está ocorrendo no Brasil. Em meio a uma polarização permeada pelo ódio e pela intolerância, numa eleição não bonita, repleta de interferências indevidas, estamos assistindo à travessia pacífica do poder político para um governo que defende teses quase diametralmente opostas às subjacentes ao governo atual.
Esta capacidade dos sistemas democráticos de engendrarem mudanças e transformações sociais de forma civilizada é um tesouro incalculável, que, muitas vezes, as pessoas não conseguem perceber. Foi na sua defesa que me engajei com tanto ardor e entusiasmo na última campanha, sem nenhum interesse pessoal, o que me traz agora uma profunda paz de espírito.
Em segundo lugar, com relação ao esboço do futuro governo Lula, para cujo êxito torço muito. Há, claro, muitas incertezas, muitas dúvidas, mas, pensando positivamente, gostaria de destacar dois aspectos interessantes.
“Não se governa sem fazer política!”
De um lado, a volta da política. Das piores coisas que aconteceram ao país, nos últimos anos, foi a negação da política, no rastro dos escândalos de corrupção que se sucederam. É evidente que o nosso sistema político tem problemas graves e precisa urgentemente ser reformado, mas a política é essencial em qualquer sociedade democrática. Não se governa sem fazer política!
De outro, a volta ao coração do poder de algumas políticas públicas fundamentais, como educação, saúde e meio ambiente, dentre outras. Em uma sociedade democrática, e desigual e injusta como a nossa, é também essencial a presença incisiva do estado em dimensões que o mercado não consegue alcançar.
Críticas são arrogantes
Vamos aguardar. E torcer. Muitas das críticas, peremptórias, verdadeiros vereditos, dirigidas ao embrião do novo governo são, a meu juízo, apressadas, precipitadas, de certa forma arrogantes. Elas estão eivadas de duas características nefastas, que empobrecem o nosso debate político: o fanatismo, que cega, e o dogmatismo e o excesso de convicções, que interditam a escuta sincera. Como certas pessoas conseguem ter tantas certezas, numa realidade tão complexa, aberta e fluida?! Aqui vale o sábio alerta de Nietzsche: “o maior inimigo da verdade não é a mentira; são as convicções”.
Vice-governador Paulo Brant, 29/ 12/ 2022.
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