Bolsonaro age como quem atira contra a própria tropa, adverte presidente da AMM
Ao defender medicamentos não comprovados e condenar medidas de restrição, o presidente Bolsonaro atrapalha o esforço de quem combate a pandemia na ponta, como governadores e prefeitos. A avaliação crítica foi feita pelo presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Julvan Lacerda, que também é vice-presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Julvan Lacerda critica política de Bolsonaro na pandemia, reprodução YouTube
De acordo com ele, Bolsonaro dificulta mais do que ajuda. “O presidente fica dando de médico, mas não sabe nada. A gente fala e faz uma coisa, e ele aparece dizendo o contrário. No ano passado, quando gravei um vídeo para alertar a população, ele apareceu na TV dizendo que era uma ‘gripezinha’. Isso dificultou muito o nosso trabalho. Ele age como quem atira contra a própria tropa”, criticou Julvan Lacerda durante entrevista exclusiva ao Blog do Orion.
Tratamento precoce não pode ser imposto
Até dezembro passado, ele era prefeito de Moema (Centro-Oeste de Minas). Embora seja favorável, em tese, a tratamento precoce para quaisquer doenças, incluindo a Covid-19, Julvan observou que não pode haver imposição. “O presidente ou o prefeito não podem obrigar médicos a adotarem esse ou aquele medicamento. É uma questão clínica que a gente não deve se meter”. CONFIRA ABAIXO A ENTREVISTA.
O jornalista Orion Teixeira entrevista o presidente da AMM, Julvan Lacerda
Sobre a vacinação, o presidente da AMM também criticou o atraso da imunização e atribui o fato à “irresponsabilidade de quem comanda a Nação”. Avaliou também que o Plano Nacional de Imunização adota estratégia equivocada. “Em vez de faixa etária, deveriam vacinar por localidade”, argumentou, segundo ele, em nome da eficiência ao controle da doença.
Hoje, mais do que vacinas, os prefeitos de Minas e do país estão pedindo socorro por insumos e kit básico para os pacientes da Covid-19. Segundo pesquisa da CNM, mais de 1.300 municípios de todo o país estão apelando ao governo por kit de intubação, já que seus estoques são suficientes para alguns dias. O levantamento foi feito entre os dias 23 e 25 de março. Uma semana antes, o presidente da AMM enviou ofício ao presidente Bolsonaro, ao ministro da Saúde e ao Congresso Nacional, fazendo apelo em nome dos municípios, mas não obteve resposta.
“Zema não pode ficar submisso”
Ainda na entrevista, Julvan Lacerda disse que o governador Romeu Zema (Novo), por tudo isso, não pode ficar submisso ao presidente. “Não pode ficar pedindo benção”, observou, mas aprovou a decretação da onda roxa como medida que o distingue da política do governo federal. “A onda roxa é um remédio amargo, mas é o único que nós temos contra a pandemia”, considerou. Reconheceu que, apesar de reações contrárias, a iniciativa privada tem colaborado com as prefeituras muito mais do que alguns gestores.
Adiantou que, apesar da boa relação, a Associação irá cobrar do governo Zema a dívida com as prefeituras na área da saúde. “Ele precisa voltar a investir no que é prioridade, saúde é prioridade”, observou o dirigente, que ainda falou sobre seu projeto político para as eleições do ano que vem.
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