Ciúmes de Bolsonaro não afetam popularidade nem favoritismo de Moro em 2022
Mais uma vez, o presidente Bolsonaro (sem partido) tentou em vão tirar poderes de seu ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Agora, a intenção era dividir sua pasta em duas, deixando-o sem a segurança pública. Bolsonaro e aliados se enganam nesse ponto. Não será esvaziando seu ministro que irá reduzir a popularidade dele ou o risco de ameaçar sua reeleição em 2022. A situação pessoal favorável de Moro dispensa isso e pode se dar ao luxo até de ficar sem o cargo, ser demitido.
O chefe Bolsonaro e o seu ministro Sérgio Moro
Moro tem melhor avaliação e mais credibilidade junto à opinião pública que Bolsonaro, segundo levantamentos do Datafolha. Na última pesquisa, realizada em dezembro, o ministro recebeu aprovação de 53%; o presidente alcançou 30%. A popularidade do ministro foi conquistada antes do governo atual, na condição de ex-juiz federal no comando da polêmica Operação Lava Jato.
Dizem na política que ciúmes de homem é mil vezes pior do que o de mulher. Entre os políticos, disputa-se sobre quem tem mais poder em função da dúvida e insegurança de cada um. Na verdade, eles não sabem onde fica o poder e qual é o tamanho dele.
Disputa de poder é falta de noção
Como condição subjetiva, o poder só existe quando exercido com sabedoria. Quem não sabe, se estrepa e fica, cada vez mais, carente de manifestações que o engrandeçam o tempo todo. Caso típico de dependência química e física. Não funciona mulher elogiar um político: ele quer ouvir isso dos próprios homens. Deve ser o troféu maior do poder para os fracos.
Qualquer criança, se perguntada, irá dizer com toda clareza que o cargo de presidente tem muito mais poder do que o de ministro. Que pode decidir e desautorizar. Basta lembrar que o primeiro pode demitir o segundo. Mais ou menos como aquela máxima que diz que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Moro demonstrou que tem juízo (afinal, é ex-juiz) na entrevista ‘coletiva’ que concedeu ao programa Roda Viva, da TV Cultura, da última segunda-feira. Ainda assim, saiu da linha que Bolsonaro dá conta de pôr na cabeça. Por isso, ele ficou desgostoso quando não ouviu Moro defender a si e a seu governo ante as críticas dos jornalistas. Foi o que atiçou os ciúmes de Bolsonaro e aliados.
Hierarquia ou convicção
O que mais incomodou o presidente, foi quando Moro, apertado pelos jornalistas, disse que, ”por questão de hierarquia”, não poderia criticá-lo. E mais, viram na entrevista mais um presidenciável do que um membro da causa.
Como o poder é um exercício de possibilidades, aliados do ministro consideraram o gesto do presidente como intenção de “dar um susto” nele. Traduzindo, seria o máximo que Bolsonaro conseguiria fazer. Quem sabe o governo Bolsonaro acabaria, como advertiu o ministro Augusto Heleno (Gabinete Institucional). O comentário dele foi feito quando o presidente pensou em demitir Sérgio Moro em julho do ano passado. Na dúvida, deixou como está.
Em Nova Déli, na Índia, para onde foi em viagem oficial, na sexta (24), Bolsonaro mostrou juízo ao descartar o esvaziamento de Moro. “A chance no momento é zero, tá bom? Não sei amanhã, na política tudo muda, mas não há essa intenção de dividir”, disse ele, sinalizando (muita) insatisfação.
A ideia era desmembrar o ministério de Moro, mas, como essa não é uma tarefa politicamente correta no campo bolsonarista, melhor deixar pra lá. A fritura continua.