Tramonte une Kalil ao rival Zema na eleição de BH. Como fica em 2026?
A política une e separa e, às vezes, faz alianças controversas e estranhas ante os interesses que uma eleição, por exemplo, pode trazer. O meio político está pedindo explicação sobre a mudança do ex-prefeito Alexandre Kalil, que trocou o PSD pelo Republicanos.
Com isso, vai apoiar o pré-candidato Mauro Tramonte em vez de Fuad Noman, seu ex-vice e candidato à reeleição em BH. Por sua posição de favorito nas pesquisas, Tramonte conseguiu a proeza semelhante à do ex-prefeito Marcio Lacerda. Em 2008, Lacerda ganhou o apoio do então governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT). Os três tiveram vitórias momentâneas e, hoje, estão todos fora do jogo político e se tornaram rivais políticos e pessoais.
Kalil e Zema se juntam na eleição apesar das divergências, foto Divulgação e Pedro Gontijo/Imprensa MG
A façanha em torno de Tramonte vai colocar junto, sem abraçar, no mesmo barco Kalil e os, até outro dia, desafetos do partido Novo, como o governador Romeu Zema e seu vice, Mateus Simões. Quando prefeito, Kalil apanhava todo dia do então vereador Simões. Agora, estarão juntos no projeto de Tramonte, sabendo que o casamento, por ser arranjado, tem data de validade curta.
Em 2026, cada um tomará seu rumo e que, tudo indica, será de brigar pelo governo de Minas. O vice de Zema é pré-candidato a governador pelo Novo; Kalil também é e, se conseguir sobreviver lá, pelo Republicanos.
No almoço que selou a aliança do Novo com o Republicanos, o secretário de Zema, Marcelo Aro (PP), da Casa Civil, não quis digerir o prato do dia. Alguns também não o queriam por perto. Tudo somado, a ex-secretária de Planejamento de Zema, Luisa Barreto (Novo), que resistia, será a vice na chapa, como antecipamos aqui na quinta (25).
Kalil rejeita extremos
Ao contestar a crítica de ter dado cavalo de pau na eleição, Kalil disse que não acredita em democracia na Venezuela, muito menos que a cloroquina cura COVID. “O PSD foi bolsonarista no Sul e foi Lula em Minas. O presidente do PSD (Gilberto Kassab) é secretário e braço direito do governador Tarcísio (Republicanos), em São Paulo, e indicou ministros de Lula”, argumentou.
O ex-prefeito ainda descartou que a polarização ideológica, entre petista e bolsonarista, vá prevalecer. “A eleição vai discutir é posto de saúde. O eleitor não é burro”, advertiu.
Maconha e aborto
Kalil rejeita também a conversa sobre pauta de costumes. “Esse papo de aborto, maconha e banheiro de escola é conversa de Brasília e de gente que não tem projeto para Belo Horizonte. Esses assuntos não são nossos”, avisou o ex-prefeito, mas a campanha pode ter um nível de fervura que poderá expor seu candidato.
Razões da saída
A saída do ex-prefeito Alexandre Kalil do PSD não tem nada a ver com Fuad, apesar de uma ou outra trombada. O nome da discórdia interna atende por Alexandre Silveira (PSD), ministro de Minas e Energia do governo Lula.
Silveira fez forte movimento contra o ex-prefeito porque ambos pretendem disputar as eleições para governador. No Republicanos, Kalil ganhou o espaço que queria. A outra liderança nacional do PSD, Rodrigo Pacheco, não está sonhando com o governo de Minas, mas uma vaga de ministro do TCU seria bem-vinda.
Zema quer distância
Ao esconder sua pré-candidata a prefeita Luisa Barreto na chapa de Tramonte, o governador Zema embarcou para Santa Catarina para fazer campanha para aliados de lá. Deverá repetir Aécio, que tomava cafezinho com o candidato no centro de BH e, depois, ficava 15 dias fora. O que Zema mais quer nessa eleição é manter distância da briga.
Opção de dano menor
Com a aliança a Tramonte, Zema escolheu a direita sem riscos e sem os excessos do bolsonarismo. Além disso, não há denúncias contra o futuro candidato do Republicanas, mas seus adversários estão levantando sua ficha. Vão cobrar suas ausências na agenda de deputado estadual e a falta de projetos na Assembleia para Belo Horizonte.
Livre e solto
Por falar em Marcelo Aro, não será surpresa se se reaproximar de Fuad na campanha de reeleição. Eles estiveram juntos até o início deste ano na prefeitura da capital. Como comanda a ‘família Aro’, que inclui vários deputados federais, estaduais e vereadores e alguns partidos, o atual secretário de Zema pode dividir apoios já que está sem compromissos.
Todos esperam pelo STF
A Assembleia Legislativa retoma os trabalhos com a missão amarga de votar o projeto de adesão de Minas ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que a maioria não quer. A votação está prevista para as 14h, mas o presidente Tadeu Leite (MDB) deverá esticar a corda ao máximo, esperando a liminar salvadora do ministro Kássio Nunes (STF).
Por ela, poderia suspender a votação e evitar até a derrota de Zema em plenário sobre seu principal projeto. Na votação de primeiro turno, o governo precisou contar com o apoio da oposição e venceu pelo placar de 33 a 20. Desta vez, tem deputado que foi para Paris, outro para a convenção, um terceiro está com a mãe doente. O principal interessado está na capital catarinense. Se Kassio Nunes ceder a liminar, irá deixar alguns puxões de orelhas para Zema.
(*) Publicado no Jornal Estado de Minas
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