Sem retorno, Bolsonaro dará golpe ou, sem apoio, será forçado a renunciar
Os atos deste 7 de Setembro serão decisivos para o futuro do governo Bolsonaro e, por consequência, para os destinos do país. Em vez de homenagear a independência do país e a democracia, conforme a tradição, foram exaltados o desrespeito à Constituição da República e as leis. Ao invés de apresentar as soluções para os verdadeiros e reais problemas brasileiros, o presidente da República apresentou agenda de retrocesso e de agravamento das dificuldades do país.
Bolsonaro fez discurso com teor golpista em ato realizado em Brasília (Reprodução/Redes sociais)
Bolsonaro falou para milhões de ouvidos que não querem pensar sobre os obstáculos ao avanço de seu pensamento único. Nada da pandemia (como sempre!), de alta da inflação, desemprego ou crise energética. Como quem não entende de seu ofício, passou o tempo apontando os culpados pelo próprio fracasso.
O vilão da vez no mundo bolsonarista é o Supremo Tribunal Federal, particularmente o ministro ‘careca’ Alexandre de Morais, autor de sentenças contra o bolsonarismo. “Não irei mais respeitar as decisões dele”, antecipou Bolsonaro assumindo crime de desobediência civil. Por que Alexandre de Moraes?
Razões do ódio a ministro do STF
Por duas razões até óbvias. Primeiro, porque Alexandre de Moraes autorizou investigar Bolsonaro, familiares e aliados no inquérito das fake News; segundo, é esse ministro que irá presidir as eleições de 2022. Daí a razão pela qual esquece o ministro Luís Barroso, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bolsonaro não briga com a Justiça Eleitoral, ou com o voto eletrônico, porque acha que vai perder as eleições, como prevê. Não, ele não quer correr o risco de perder, reconhecimento se fosse democrata e conhecedor das regras do jogo.
Ora essa, quem disputa uma eleição corre o risco de perder ou ganhar. No entanto, um ditador não admite isso: assumir o poder e correr o risco de perdê-lo por um capricho do julgamento popular. Na dúvida, põe em xeque o sistema eleitoral, as urnas eletrônicas que não permitem fraude, e a idoneidade e elegibilidade do principal rival, o ex-presidente Lula (PT).
O ex-juiz Sérgio Moro formou convicção de que Lula era criminoso e o mandou prender, tirando-lhe o direito de ser candidato presidencial. Teve apoio de procuradores federais e do principal sistema de comunicação do país: a Rede Globo. Missão cumprida, compensação consumada: abandonou a carreira par virar ministro da Justiça. Quando o atual sistema de poder percebeu que não precisava mais dele deu pé na região necessária e já havia rompido com o sistema Globo. “Acabou a mamata”, apontou o Bolsonaro eleito.
Atos foram tratados como salvação do governo
Para salvar seu governo. Bolsonaro não se faz de rogado para colocar a democracia em risco. Ao final, será um grande desafio para as instituições democráticas e para a própria democracia desde o início da redemocratização em 1985. Sem controle, Bolsonaro disse que há, sim, uma tendência de ruptura institucional e o ameaça na direção do Supremo.
Por quê? Pelo fato de o STF não de julgar e decidir como ele quer que seja, por não estar alinhado a ele. E, principalmente, por ser investigado pela Corte por seus atos antidemocráticos e pela omissão no combate à pandemia. Em ambos os casos, são posturas ditatoriais e de quem se acha acima da lei.
Por conta disso, Bolsonaro, para romper o isolamento institucional em que se encontra, apelou para seus seguidores e as ruas para impor suas vontades. Não a da Constituição ou das leis, da liberdade e da justiça. Tenta subverter tudo isso e dizer o que é o certo e errado, comportamento tipicamente autoritário.
Perfil de um ditador
Por isso, já disse aqui que o caso Bolsonaro não é de análise política, mas psíquica. Seu perfil não é de um democrata e estadista. Não quer apenas ser reeleito ou querido pelo povo, quer ser temido e assumir o governo sem tem que se submeter ao voto e julgamento populares. E ainda, imagine, ter mais quatro anos lidando com o STF, imprensa e a oposição?
Então, as manifestações deste 7 de setembro podem ser um divisor de águas para seu governo e o futuro do país. Pode ser bem sucedido na manifestação? Pode. Mas o que isso representa? Vai substituir o STF e o Congresso Nacional por aglomerar seguidores sem máscaras? Vão decidir ali o que querem para o país?
Bolsonaro pode ter colocado 500 mil pessoas ou um milhão nas ruas de São Paulo e de Brasília, mas os outros 210 milhões de brasileiros (IBGE) não o seguiram. O país, como a maioria dos outros, tem grandes problemas, como a pandemia, o desemprego, a alta da inflação e a fome. Esses deveriam ser a pauta e a prioridade do governo brasileiro, que, infelizmente, dedica-se agora ao golpismo. Mais do que nunca.
Triste fim de um campeão
De tricampeão da Fórmula 1, o ex-piloto Nelson Piquet acabou como motorista de Bolsonaro. Será que desobedecerá o chefe quando esse mandar que vire à esquerda!?
Queiroz virou celebridade no bolsonarismo
Entre os seguidores de Bolsonaro, no Rio, o homem de confiança das rachadinhas dos Bolsonaros virou celebridade entre os seguidores do ex-chefe. Preso várias vezes por envolvimento no esquema do qual virou réu na Justiça, Fabrício Queiroz gastou seu tempo atendendo aos fãs para fotos e abraços durante os atos do 7 de setembro em Copacabana.
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