Reeleição de Kalil ainda não tira favoritismo de Zema em 2022
As eleições para governador acontecem só em 2022, mas já estão em contagem regressiva e em progressiva articulação. Após a sucessão municipal deste ano, emergiram dela dois pré-candidatos em situações antagônicas. São eles o próprio governador Romeu Zema (Novo) e o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). O primeiro saiu chamuscado por derrotas e o segundo foi consagrado nas urnas ao conquistar novo mandato, dispensando até votação de 2º turno.
Zema e Kalil emergiram das urnas municipais como pré-candidatos a governador, mas em situações opostas, fotos Henrique Coelho/site BHAZ e Amira Hissa/PBH
Com isso, Zema ganhou uma forte concorrência, mas, apesar disso, ele ainda é favorito. Por várias razões. Primeiro porque é naturalmente candidato a ser novamente candidato a governador. Segundo, detém de 50% a 60% de aprovação no interior do Estado; na capital, oscila de 30 a 40%.
Novos recursos na veia
Ainda não tem realizações para apresentar, mas, até o final deste ano, sua gestão deverá ser beneficiada com volume extra e significativo de recursos da ordem de bilhões. Trata-se do acordo de negociação com a mineradora Vale para reparação dos danos socioeconômicos e ambientais causadas por rompimento de barragem. A tragédia ocorreu há quase dois anos em Brumadinho (Grande BH), matando ainda 270 pessoas.
Estudo da Fundação João Pinheiro, vinculada ao governo estadual, projeta indenização na casa dos R$ 50 bilhões. A Vale chegou a propor cerca de R$ 20 bi. Na conciliação arbitrada pelo Tribunal de Justiça, os valores deverão subir. Esses recursos serão carimbados judicialmente para o fim da reparação, que, pelo tamanho do investimento, irá aquecer a economia e o mercado de trabalho. Em contraste, o resto do país ainda estará em estagnação econômica como resultado da pandemia do coronavírus.
Desvantagens para o governador
Como desvantagem para Zema, as dificuldades de articulação política, a falta de apetite para essa prática e o pífio desempenho eleitoral nas eleições municipais. A derrota é do partido Novo, mas afeta também a liderança dele. Não se pode culpar o eleitor como fez o deputado Bartô (Novo) na Assembleia Legislativa.
Os erros foram do próprio partido e começaram antes da campanha, ao não se preparar. Lançou apenas três candidatos a prefeito em todo o Estado, um na capital, outro em Contagem (Grande BH) e o terceiro na própria terra do governador, em Araxá (Alto Paranaíba). Perdeu em todos. O candidato a prefeito de BH, Rodrigo Paiva, sequer recebeu o voto de Zema, que, no dia da eleição, foi para a cidade natal, para ajudar seu candidato. Não obteve êxito.
Ao final, o Novo elegeu apenas quatro vereadores, dos quais três em BH. Tudo isso é negativo, porque em vez de crescer, depois de eleger um governador e três deputados, o partido andou para trás. Esse fracasso trará reflexos, daqui para frente, sobre a administração do governo mineiro e sobre o futuro político de Romeu Zema.
Por outro lado, ele se articula e busca atrair a capilaridade de aliados atuais, como o presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Julvan Lacerda. Atual prefeito de Moema (oeste), Julvan deixará esse cargo a partir de janeiro, quando assume um sucessor aliado.
Prefeito ganha força política estadual
Kalil se esquiva da conversa, mas o meio político aposta que ele deixará o cargo após 16 meses de novo mandato. O fim desse prazo coincide com o da exigência legal para que candidatos se desincompatibilizem, deixem os cargos para ficarem aptos à disputa eleitoral. Não foi à toa que escolheu, como vice, o amigo, fiel escudeiro e ex-secretário da Fazenda, Fuad Noman, que, se assim for, ficará por dois anos e oito meses.
Com a vitória incontestável nas urnas, Kalil se cacifa politicamente. Daqui pra frente, as decisões políticas maiores do Estado passarão pela Avenida Afonso Pena 1.212, a sede administrativa da prefeitura no centro da capital. Como portfólio, terá um conjunto de obras de sua administração para contrapor à falta, até o momento, de realizações do atual governador.
Pontos a favor e contra
Ele tem a aprovação de mais de 60% dos belo-horizontinos. Outras duas vantagens são o cargo de prefeito da capital e de ex-presidente do Atlético Mineiro. O primeiro tem grande influência e projeção perante o interior do Estado. Nos últimos 38 anos, dos seis prefeitos da capital que disputaram o Governo de Minas, três foram eleitos (Hélio Garcia, Eduardo Azeredo e Fernando Pimentel). Dois saíram derrotados (Pimenta da Veiga, que não complementou o mandato na prefeitura, e Patrus Ananias). O sexto, Marcio Lacerda, tentou, mas seu ex-partido (PSB) o impediu de ser candidato.
Tudo somado, a prefeitura da capital traz um enorme potencial para quem fizer uma boa administração, cujo desempenho irradia de maneira positiva para o interior. O segundo cargo traz benefícios por ser conhecido em todo o estado em função de sua bem-sucedida gestão do mundo do futebol. Como ex-presidente do Atlético é querido por atleticanos e tolerado por cruzeirenses e americanos.
São apenas cenários para o futuro, mas, como em toda a disputa, o jogo é jogado, e o lambari é pescado. O que vocês acham? Comentem à vontade e mantenham elevado o nível do debate.
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