Agressão de deputados a deputada negra é repudiada por 7 entidades; coletivo faz ato de protesto
Sete entidades ligadas aos direitos humanos repudiaram a agressão de dois deputados bolsonaristas a deputada negra na Assembleia Legislativa de Minas. Os deputados Coronel Sandro (PSL) e Bruno Engler (PRTB) abandonaram o decoro parlamentar e atacaram a deputada Andréia de Jesus (PSOL) de maneira racista e misógina.
Foram manifestações feitas em tom grosseiro como fazem costumeiramente, mas nunca com agressividade como fizeram contra uma mulher e negra. A deputada divulgou nota de repúdio aos ataques na qual considerou “sexistas” os ataques a ela.

Andréia de Jesus, coronel Sandro e Bruno Engler, fotos Sarah Torre/ALMG e ALMG
As agressões ocorreram após Andréia se pronunciar contra a morte da jovem Kathlen Romeu, de 24 anos, grávida, que ocorreu durante operação policial no Rio de Janeiro. Ela solicitou um minuto de silêncio e ainda criticou o genocídio histórico, em Minas e no país, contra negros, em especial os mais jovens e moradores de periferia.
Confira a carta de entidades ligadas aos direitos humanos
“Intolerável! Condutas fascistas em uma democracia são intoleráveis!
A expressão fascismo tem sido utilizada de forma generalizada ultimamente. O episódio lamentável protagonizado pelos deputados da extrema direita, Coronel Sandro (PSL) e Bruno Engler (PRTB) ajuda a entender o fascismo e delimitá-lo conceitualmente.
O fascismo foi um movimento histórico de violência e ódio que surgiu na Itália. Entretanto sua conformação política e suas ações fizeram com que a expressão fosse adotada para designar movimentos semelhante por todo o mundo. Embora o nazismo tenha uma conformação histórica própria, alguns estudiosos o têm classificado como uma das formas históricas de um fascismo em sentido lato.
As práticas fascistas são violentas, racistas, homofóbicas, machistas; anti-liberais, anti-socialistas, anti-operariado, anti-democráticas, contra a vida. É impossível o diálogo com um fascista, pelo fato deste ter ultrapassado a linha que separa a razão da paixão. Trazemos aqui uma breve referência ao pensamento de Lacan quando este fala das três paixões humanas: o amor, o ódio e a ignorância. Quando a paixão impera perdemos a razão, nosso corpo se altera, a química do nosso corpo se modifica, nos impedindo de pensar com equilíbrio. O fascismo é o espaço do que alguns estudiosos da teoria Lacaniana chamam de “ignoródio”. A cegueira gerada pelo ódio e pela paixão ignorante.
O horroroso episódio protagonizado pelos dois deputados pode ser inserido dentro do conceito amplo de “fascismo”. Estão ali presentes o ódio, a reação irracional, preconceituosa, racista, machista, por fim, o “ignoródio”, uma vez que não há tudo isso sem a presença de uma brutal ignorância.
Podemos acrescentar ainda um outro fator que acompanha o fascismo: o mal no seu mais puro estado. Partindo de Santo Agostinho, o mal é ausência. O que vimos na manifestação dos dois deputados é “ausência”. Ausência de bondade, ausência de empatia; ausência de inteligência; ausência de conhecimento; ausência de amor; ausência de respeito. Enfim, o completo vazio.
Deputada Andreia de Jesus. Estamos do seu lado. Estamos do lado da bondade, do respeito, estamos do lado da luta, lutando contra a violência, o racismo, o machismo e todas as formas de opressão e de comportamentos fascistas.
Não toleraremos a presença do fascismo na sociedade brasileira”.
Assinam: Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz de Belo Horizonte
Academia de Juristas Católicos e Humanistas da Arquidiocese de Belo Horizonte
NESP – Núcleo de Estudos Sociopolítico da PUC Minas
Centro Franciscano de Defesa de Direitos – BH
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Coletivo Arquidiocesano de Fé e Política – BH
Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia
Articulação Comboniana de Direitos Humanos
Coletivo faz ato de desagravo à deputada
O Coletivo de Mulheres da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e entidades de defesa dos Diretos Humanos, de defesa dos Direitos das Mulheres, de combate à violência contra a mulher, de defesa da igualdade racial, de combate ao racismo e à violência política contra a mulher vão se reunir na escadaria da Assembleia no FORÇA ANDRÉIA, um ato de apoio à deputa Andréia de Jesus (PSOL). O ato acontecerá no próximo dia 15, às 13 horas.
Por entender que os referidos deputados procederam de maneira desproporcional, agressiva, machista, misógina, preconceituosa; que, no ambiente parlamentar, não cabe manifestação de ódio; que os deputados responderam a um momento de dor da deputada com palavras que a feriram ainda mais, a sociedade civil, organizada em entidades de defesa da vida, da democracia e de promoção da solidariedade vão se juntar em um ato necessário nesse momento de que, não bastando o choro do Brasil pelos mortos pela Covid-19, a população negra chora a dor de ver suas filhas e filhos, irmãs e irmãos, pais e mães sucumbirem a ações desastrosas de ações policiais.
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