'Engana que eu gosto’: Bolsonaro promete ampliar metrô de BH às vésperas da eleição
Há um ditado popular que diz que “nunca se mentiu tanto quanto antes de uma campanha eleitoral, durante uma guerra e depois de uma pescaria”. Estamos exatamente na fase da primeira situação. Às vésperas das eleições para prefeito de Belo Horizonte, o presidente Bolsonaro “anunciou”, nesta terça (1), que irá liberar recursos para ampliar o metrô de BH.
Bolsonaro, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes, e o adjunto, Marcelo Sampaio (Reprodução/Twitter/@jairbolsonaro)
No final de semana, Bolsonaro disse, de acordo com seus aliados, que ele não iria entrar na campanha eleitoral para evitar desgastes ao projeto de tentar se reeleger em 2022. Qual Bolsonaro falou a verdade no caso da eleição e da promessa da obra? Nenhum deles. Ao contrário do que disse, vai entrar na campanha sim, já citou seu candidato e até postou foto ao lado de Bruno Engler (PRTB), deputado estadual bolsonarista convicto. Quatro dias depois, posta que vai liberar recursos para o metrô. Liberando ou não o recurso, busca interferir na campanha a favor do aliado.
Estratégia é usada desde 1998
Ambas as declarações podem entrar para aquele quadro “me engana que eu gosto” ou “acredite se quiser”. Eleitores desavisados gostam disso e, a cada campanha, embarcam nas promessas. Desde 98 (governo do tucano Fernando Henrique), presidentes nos enganam com essas histórias de que irão investir ou concluir três obras federais no estado. São elas, a duplicação da rodovia da morte (BR-381, de BH a Valadares; a duplicação do Anel Rodoviário de BH e a conclusão do metrô de BH).
A ampliação do metrô está presente em todas as campanhas, de presidente, governador e prefeito. Como os antecessores, Bolsonaro está fazendo a mesma coisa. E mais, antes dele, no sábado (29), o prefeito da capital, Alexandre Kalil (PSD), comemorou a mesma possibilidade diante de acordo com o Ministério Público (MP). O anúncio havia sido feito pelo senador Carlos Viana, do partido de Kalil. “Parabéns, Belo Horizonte. Conseguimos uma grande vitória. Dinheiro da Vale será revertido do Tesouro para o financiamento da Linha 2 Metrô Calafate x Barreiro”, escreveu Viana. Kalil respondeu: “Boa, senador! Vamos aguardar.”
Média de 1 km por ano há 30 anos
Depois que ganham (ou perdem) as eleições, as obras nunca vêm. O metrô de BH tem pouco mais de 30 quilômetros e mais de 30 anos. É como se, na média, fosse construído um quilômetro por ano. Acho que essa ampliação não acontecerá e está sendo dita apenas para ampliar a influência eleitoral de Bolsonaro nas eleições de Belo Horizonte. Não vou entrar em detalhes sobre a obra para não abusar da boa fé do cidadão.
Tudo somado, quando a notícia parece boa, muitos querem assumir a paternidade pela obra. Ainda falta a manifestação do governador Romeu Zema (Novo), que tem candidato e que terá papel no projeto se realmente aparecer o dinheiro. Porém, quando o filho é feio, ninguém assume a responsabilidade.
Jogo de empurra entre estado e Brasília
Estado e o governo federal vivem às turras quando o assunto é a responsabilidade de cada um sobre o futuro dessas obras. O governo federal, que tem o dinheiro e é o responsável principal, diz que falta projeto de viabilidade, que deveria ser feito pelo estado. Esse fala que tem o projeto, mas que o governo federal não libera o recurso por falta de apoio político a Minas.
O eleitor precisa ficar atento daqui pra frente às promessas de candidatos e de seus cabos eleitorais e padrinhos. É muito fácil prometer; executar é que o desafio. A responsabilidade será sempre de quem se elegeu. Por isso, teremos mais de 10 candidatos prometendo mundos e fundos. Apenas um (o eleito) terá a obrigação e deverá ser cobrado por cumpri-las.