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Após negar a pandemia, Bolsonaro tenta se blindar da tragédia de mais de 40 mil mortes

Quando sua rejeição avança, passando dos 50%, e o Brasil também caminha para a trágica marca do 2º do mundo em mortes pela Covid-19, Bolsonaro tenta se blindar de responsabilidades. Como se as mais de 40 mil mortes acontecessem em outro país, que não aquele que ele foi eleito para presidir. Como os governadores estaduais e prefeitos, ele também é responsável, aliás, o maior pelo que fez, e principalmente, deixou de fazer.

Depois de negar a pandemia, seus efeitos e riscos, o presidente começa a eleger os culpados pelo desastre. O alvo preferencial dele são os governadores e prefeitos, que, em desacordo com ele, adotaram as medidas coerentes com a ciência e autoridades sanitárias.

Bolsonaro fala a apoiadores, foto Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Para isso, ainda distorce decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que o impediu de revogar decisões estaduais e municipais no combate à pandemia. O STF sentenciou, textualmente, que estados e municípios tinham autonomia para adotar as medidas, como o isolamento e distanciamento social. E não que o governo federal estaria impedido de agir; ao contrário, disse que a coordenação, que renunciou, caberia a ele.

Fake News contra governadores

Em suas mídias sociais, o presidente postou que “as ações de combate à pandemia […] ficaram sob total responsabilidade dos governadores e prefeitos”, por causa da decisão do Supremo. Inverdade para não dizer fake News.

Fez também grave denúncia, igualmente com cara de mais um fake News, ao afirmar que os números divulgados por seu ex-ministro da Saúde (Luiz Mandetta) eram ‘fictícios’. Que a intenção dele era “inflar” os dados. Quando Mandetta foi demitido por ele, o país tinha menos de 3 mil mortos. O presidente ainda ironizou os conselhos dados pelo ex-ministro, que é médico, para que a população ficasse em casa e de se orientar pela ciência para tomar decisões.

Pelas redes sociais, na quinta (11), Bolsonaro fez um pedido descabido e insensato à população, para que entre em hospitais públicos para filmar o atendimento. Suas suspeitas é que estariam vazios. A intenção seria denunciar mau uso do dinheiro público, como se o cidadão estivesse capacitado para avaliar as condições de assistência à pandemia.

“Tem hospitais de campanha perto de você, tem um hospital público, né? Arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente vem fazendo isso, mas mais gente tem que fazer para mostrar se os leitos estão ocupados, ou não. Se os gastos são compatíveis, ou não. Isso nos ajuda. Tudo o que chega para mim nas mídias sociais, fazemos um filtro e encaminho para a Polícia Federal ou para a Abin, e lá eles veem o que fazem com os dados. Não posso prevaricar. O que chega ao meu conhecimento, passo para frente para diligência deles para análise e processo investigatório, ou não”, afirmou ele.

Fake News contra ex-ministro

Em outras vezes, o presidente fez isso e cometeu fake News, quando disse, por exemplo, que o Ceasa, de Belo Horizonte, estava abandonado por causa do isolamento. Ficou provado que a filmagem havia sido feita em final de semana, quando não havia movimento na central.

Para ele, governadores e prefeitos estão atribuindo óbitos por outros motivos como coronavírus para culpar seu governo. “São dezenas de casos que chegam por dia nesse sentido. Não sei o que acontece, o que querem ganhar com isso. Tem um ganho político dos caras, só pode ser isso. Aproveitando que as pessoas falecem para ter um ganho político e para culpar o governo federal. Não tem como impedir essa doença, o óbito. O que acontece, na verdade? Quem contrai o vírus, se tem comorbidades ou idade avançada, são pessoas mais fracas, a possibilidade de entrar em óbito é grande”, disse.

Agora, descumpre promessa de campanha, de ter apenas 15 ministérios, e cria o 23º para buscar sustentação política em casos de desgaste e riscos de impeachment. Recriou o Ministério das Comunicações e nomeou, para ele, o deputado Fábio Faria (PSD-RN), que é genro do empresário Silvio Santos, dono do SBT, e ligado ao Centrão. Com isso, além do apoio político desse bloco parlamentar, tenta reorganizar sua política de comunicação, além de diminuir a influência de militares na área.

Ganho político com mais um ministério

“Vamos tentar melhorar as comunicações do governo. Mas vamos tentar melhorar a comunicação no geral”, afirmou. O presidente passou para as Comunicações a Secom (Secretaria Especial de Comunicação), antes subordinada à Secretaria de Governo, comandada pelo general Luiz Eduardo Ramos.

A avaliação no Congresso é a de que o presidente busca se fortalecer no momento em que enfrenta protestos nas ruas, é alvo de ações que pedem a cassação de sua chapa no Tribunal Superior Eleitoral e vê o inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal atingir seus aliados. Não adianta ter apoio político no Congresso se sua aprovação e popularidade derretem a cada dia.

Candidato a 1º em mortes no mundo todo

De acordo com a projeções, o Brasil poderá assumir o 1º lugar em mortes já no final do próximo mês, caso as medidas de controle da covid-19 não mudem. As estimativas foram feitas pelo instituto inglês IHME (Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde) e pela Universidade de Washington em Seattle, nos Estados Unidos. O modelo de cálculo é o mesmo usado pelo presidente norte-americano Donald Trump. Ele já disse que, se seguisse o que faz o Brasil na pandemia, teria mais de 2 milhões de mortos e não os atuais 100 mil.

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