Coronavírus faz a 1ª vítima na política mineira com risco a todos
Sem sensacionalismo, o contexto permite a avaliação apreensiva e até aflita ante a escalada do coronavírus. Em vez de preparar, organizar a nossa escalada de combate ao inimigo comum, que é a epidemia, assistimos à troca de farpas e de ofensas entre políticos e governantes. Ao lado de medidas importantes, adotadas quase que isoladamente, surgem brigas desnecessárias e estéreis. Como exemplo, a que envolveu o governador Romeu Zema (Novo) e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD).
Kalil e Zema rompem por conta dos efeitos do coronavírus, foto Divulgação e Pedro Gontijo/Imprensa MG
A primeira vítima, nesse confronto, é a política mineira. Junto dela, foram o foco e a necessária união de esforços entre os dois maiores gestores do Estado. Ou seja, comandantes das duas maiores instituições do poder executivo estadual, o Governo do Estado e a Prefeitura da capital mineira.
Que impressão e sensação terão os mineiros da capital e do interior assistindo a esse espetáculo de mau gosto? Não só espetáculo, mas suas consequências nas ações que exigem emergência e soma de esforços e de recursos para conter o avanço da doença.
Duelo é apropriado na eleição
Ora, que eles têm diferenças já sabíamos, mas elas deveriam surgir e se acentuar na hora da disputa eleitoral. Na eleição, confrontam-se modos de ver o mundo, a política e a gestão pública. Eleição é para isso, como a que está prevista para acontecer em outubro (aliás, esperamos que seja mantida). Que eles podem se enfrentar em 2022 na eleição para governador é uma possibilidade remota e incerta.
Hora de eleição é de disputa, hora de governar é de colocar as diferenças de lado e o compromisso público acima delas. Qual a razão desse desentendimento agora? Irritação, recuos, confusão, incompreensão só pioram as coisas. Nós jornalistas até apreciamos uma confusão, para trombetear, apontar crises políticas, mas, nesse contexto de hoje, não há graça alguma.
Por falar nisso, é bom perguntar: quantas vezes houve um encontro oficial do governador com o prefeito da maior cidade de Minas, a capital, desde que Zema tomou posse? Grave é descobrir que isso nunca aconteceu. Seria hora de acontecer neste momento. Ainda que não seja presencial, o que não é conveniente mais, mas virtualmente, cordialmente, sem armas de um contra outro. A população, com certeza, não está querendo ver um duelo.
Exemplo de desunião já veio com as chuvas
Situação semelhante aconteceu nas tempestades de janeiro e fevereiro. Da mesma forma, não houve união nem mesmo convergência de ações. O presidente da República veio aqui, no dia 30 de janeiro, sobrevoou, ao lado do governador, as regiões atingidas pelas chuvas. Prometeu liberar R$ 1 bilhão para três estados, mas o dinheiro não veio integralmente até hoje.
A capital mineira, uma das mais atingidas, recebeu apenas R$ 7 milhões, segundo a prefeitura, dos R$ 200 milhões que gastará com a recuperação.
Cada um pra si e Deus para todos, mas a população não pode se sentir abandonada nessa hora difícil. Zema acusou Kalil de “estar no palanque”; Kalil devolveu dizendo que “precisa de um governador de palavra”. Nesse duelo, de troca de farpas e de ofensas, só haverá um vencedor, que é coronavírus, que já impôs isolamento social, infecção e alto risco de mortes.
Filho mimado cria crise diplomática internacional
Da mesma forma, na área federal, a família Bolsonaro, como o filho mimado mais novo comete o desplante, a irresponsabilidade de atacar, com absurdos e preconceitos, outro país. Logo a China, que tem relações comerciais importantes e significativas com o Brasil. Deve ser hoje um dos principais parceiros comerciais, já que, no ano passado, comprou mais de R$ 60 bilhões em produtos brasileiros. Logo a China, que poderá ajudar o Brasil e o mundo com algum procedimento ou tecnologia já desenvolvida no combate ao coronavírus. Até porque os chineses foram os primeiros afetados pela epidemia.
É lamentável, e ainda esticam a corda cobrando retratação do embaixador chinês. Ora, como disse o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, não é o governo, então, o governo não tem por que cobrar nada. Ao contrário, o pai deveria passar um pito público no filho e cobrar pedido de desculpas e aplicar uma penitência de silêncio por dois anos e 9 meses e 11 dias.
Inimigo comum é mundial
Há quem veja nisso cortina de fumaça para disfarçar os problemas do governo, na economia e outras áreas, mas ninguém mais quer saber disso. Nem do governo nem de seus problemas. O que todos querem saber é de cuidados e da sobrevivência da maioria das pessoas. Esse é o problema que aflige a todos e que deveria ser a prioridade de governos federal, estaduais e municipais.
O tempo e a energia que políticos e gestores brasileiros tiverem devem ser usados contra o inimigo comum e que não é local, estadual ou nacional, é mundial.