Vices voltam a ‘dar defeito’ expondo segundas intenções dos titulares
Os vices têm sido a pedra no sapato dos candidatos cabeças de chapa nas eleições e também após elas, na administração propriamente dita. Não porque estejam apenas conspirando contra o titular, mas, muita vezes, os expõem, deixando-os numa saia justa na hora em que estão buscando conquistar os votos, o que é objetivo de uma campanha. O constrangimento maior não é porque contrariam os chefes, mas os revelam.
O que disse o candidato a vice de Antonio Anastasia (PSDB), Marcos Montes (PSD), de que eles irão apoiar Jair Bolsonaro, candidato a presidente do PSL, porque o candidato presidencial deles, Geraldo Alckmin (PSDB), não decolou, e o que disse o vice de Bolsonaro (general Hamilton Mourão), de que o décimo terceiro e as férias só existem no Brasil e que seriam problema para as empresas, são revelações antecipadas sobre o que pensam os titulares.
Anastasia contestou o vice dizendo que o candidato deles é Alckmin e não se fala mais nisso; e Bolsonaro disse que o vice não conhece a Constituição. No fundo, no fundo, o que dizem é que certas coisas não podem ser ditas, apenas pensadas para, se possível, por em prática no futuro, quando não precisarem mais de pedir votos. Então, os vices funcionam como o alter ego dos candidatos titulares. Agora, ficarão os dois recolhidos ao “silêncio obsequioso”, como prometeu Mourão, para não criar mais problemas, porque não é hora disso.
A figura do vice é e tem sido um problema para os eleitos e ganhou importância histórica nos últimos 50 anos. Após a última eleição, antes da ditadura, em 64, o vice João Goulart assumiu com a renúncia de Jânio Quadros; após a redemocratização, em 85, o vice José Sarney assumiu também com a morte de Tancredo Neves. Na primeira eleição (1989) após o fim do regime militar, em 92, o vice Itamar franco assumiu após a cassação de Fernando Collor e, há dois anos, o vice Michel Temer tomou o poder para si com o impeachment de Dilma Rousseff.
Antes de 64, eles eram eleitos diretamente. Após a redemocratização, passaram a integrar a chapa do presidente eleito. Na eleição, servem para a composição pela qual a aliança é feita para aumentar o potencial eleitoral e de tempo na propaganda gratuita de rádio e TV.
Eles podem até ficar em silêncio, mas não podem ser escondidos, até porque existem e é bom que digam o que pensam, porque muitas vezes, é o pensamento também do titular.
FOTO REPRODUÇÃO SITE BHAZ: Os candidatos a vice Marcos Montes (de Anastasia) e general Hamilton Mourão (de Bolsonaro)