Esquema que cassou Dilma salvou Aécio e salvará Temer
Ao contrário do que pensam alguns, a decisão do Senado Federal que salvou o mandato do tucano Aécio Neves não confrontou a decisão judicial. Afinal, o próprio Supremo Tribunal Federal (STF) abriu mão, no dia 11 de outubro, de der a palavra final, quando transferiu, por 6 a 5, a decisão sobre o afastamento ou não do tucano. Ou seja, o STF entrou e participou do jogo político.
Já no Senado, prevaleceu o espírito de corpo entre os políticos, do tipo ‘hoje, eu ajudo a salvar o Aécio, amanhã, eles me salvam’, levando-se em conta que boa parte dos senadores também é acusada de corrupção. Esse foi o pensamento e a motivação predominantes, apesar da vitória apertada. Foram 44 votos a 26, um placar favorável, mas de acordo com as regras adotadas no segundo tempo do jogo, quase na prorrogação.
O presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB/CE), decidiu que só encerraria a votação quando tivesse um placar de 41 votos contra ou a favor. É claro, ele sabia que, dificilmente, 41 votariam contra Aécio. Na primeira votação, o tucano conseguiu três votos a mais do que o necessário e selou seu retorno ao cargo.
Tudo somado, passou de raspão, favorecido pelo espírito de corpo resultante do fato de que outros 19 senadores correrem o mesmo risco de serem julgados pelo STF. Dos 44 senadores que votaram para derrubar o afastamento de Aécio e seu recolhimento noturno, 19, ou seja, quase a metade, são alvo da Operação Lava Jato. A maior parte deles (10) é do PMDB, partido que mais deu votos a favor - foram 18 no total.
Também veio dessa turma a defesa mais inflamada no plenário, como a do líder do governo, Romero Jucá. O presidente Michel Temer também ajudou nos bastidores, porque Aécio é o principal defensor dele dentro do PSDB. A decisão de salvar Aécio fortalece a ala tucana que vai apoiar a salvação do mandato de Temer e seu governo até o final do ano que vem. Foi um pacto sobrevivência entre eles.
Ao final, é um jogo de cartas que salvou Aécio; o mesmo que salvará Temer e cassou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-líder dela e ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT). A mesma vontade política que um dia cassou a ex-presidente, sem provas e sem acusação criminal definida, salvou o mandato de Aécio, que é alvo de graves acusações tipificadas como crime de corrupção e obstrução passiva, com gravações, delações e uma mala de dinheiro (recebida pelo primo Fred, que poderia “ser morto” em caso de delação, segundo o próprio Aécio).
Essa mesma disposição deve salvar também o presidente Michel Temer, igualmente e gravemente acusado em delações, gravações e, pelo menos, duas malas de dinheiro (uma do ex-deputado Rodrigo Loures e outra do ex-ministro dele, Geddel Vieira). No campo jurídico, o STF ainda não se manifestou sobre o impeachment de Dilma um ano depois de sua ocorrência.
Foto Marcos Oliveira/Agência Senado : Sessão do Senado Federal que salvou o mandato de Aécio