Três questões podem melar delações de Marcos Valério
Nesta semana, a primeira do recesso dos políticos, quem voltou a ser notícia foi o ex-empresário Marcos Valério ao conseguir, sob a promessa de revelações bombásticas, via delação premiada, a transferência de um presídio de segurança máxima, a Nelson Hungria, de Contagem (Grande BH), para uma das unidades da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac). Apac é um modelo prisional alternativo aos presídios tradicionais que não recuperam ninguém.A mudança tem relação direta com eventual delação premiada de Valério, que contaria tudo o que sabe e que ainda não tenha dito, para ajudar em alguma investigação e, principalmente, a si próprio, reduzindo a pena à qual já está condenado a 37 anos de cadeia (e pode pegar mais), dos quais já cumpriu quatro.
Sobre isso, existem três questões. Primeiro, o assunto parece requentado, porque Marcos Valério já tentou fazer essa delação, mas o Ministério Público estadual e o federal rejeitaram por não considerarem sustentáveis suas delações. Agora, o assunto retorna com a Polícia Federal, autora do pedido de homologação no Supremo Tribunal Federal (STF) e da transferência dele para o sistema Apac.
Resta saber se ele tem realmente alguma prova que mereça homologação da Suprema Corte, já que envolve políticos com foro privilegiado. Por que o Ministério Público não levou pra frente a delação? Quem teve acesso diz que ele está fazendo denúncias envolvendo a União da década de 90 e muita coisa sobre os tucanos, entre eles o senador Aécio Neves, e negociatas com o Banco Rural.
A segunda é que há uma discussão jurídica nesse momento sobre se a Polícia Federal também tem competência para fazer delações, como fez e faz o Ministério Público. E a terceira é que os sócios de Marcos Valério, que foram presos também, como os publicitários Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, consultados, contestaram as delações e disseram que não há mais o que falar e comprovar. Ou seja, na avaliação deles, Valério estaria buscando de todas as formas reduzir a própria pena.
No caso da Apac, o único benefício obtido por ele foi o de furar a fila. Segundo a justiça, o pedido da PF foi atendido porque ele teria inúmeras informações “sobre fatos ilícitos diversos que envolvem a República".
Forma alternativa ao modelo prisional tradicional, a Apac promove a humanização da pena de prisão e a valorização do ser humano, vinculada à evangelização, para oferecer ao condenado condições de se recuperar. Um dos fundadores da metodologia é o advogado Mário Ottoboni, que, em 1972, desenvolveu trabalho junto aos presos da única cadeia existente em São José dos Campos/SP. (Saiba mais em http://ftp.tjmg.jus.br/presidencia/novo_rumos_execucao_penal/apac_apresentacao.html)
FOTO Blasting News - Valério durante depoimento na Justiça